Essa viagem foi parte de minhas férias de abril/2003 e um dos destinos escolhidos foi a Pousada Aldeia dos Lagos na ilha de Silves. Situada a 250 km de Manaus, Silves é banhada pelo lago Canaçari, formado pela confluência de cinco tributários do rio Amazonas: rio Urubu, rio Itabani, rio Sanabani, igarapé Açu, e igarapé Ponta Grossa.
Amazônia – Silves – Confira O álbum De Fotos (mostrando 30 De 51 Imagens)
É uma região de várzea, nome usado localmente para designar a área à margem dos rios que fica inundada durante a estação das cheias (janeiro a junho). Na seca (de julho a dezembro) as águas baixam e as praias aparecem. O município de Silves é um dos mais antigos da Amazônia, sendo originário de uma missão indígena fundada em 1663. As 32 comunidades ribeirinhas dependem da pesca, que está ameaçada pela retirada excessiva dos peixes nos lagos fluviais e pela expansão da pecuária nos campos da várzea. As comunidades se organizaram na ASPAC (Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural) e, com o apoio da WWF, o ecoturismo tornou-se uma alternativa de atividade sustentável.
Parte da renda obtida com o ele é aplicada em ações para garantir peixe o ano todo para a população local. A conservação ambiental está baseada no planejamento e uso (zoneamento) dos lagos do município, estabelecendo diferentes categorias de uso – Lagos de Procriação – Lagos santuários com proteção total, para permitir, sem interferências, a reprodução natural dos peixes e o repovoamento, Lagos de Manutenção – Lagos onde é permitida somente a pesca artesanal de subsistência para garantir a alimentação e a renda comunitária e Lagos de Exploração Pesqueira – O restante dos corpos d’água regionais (rios, igarapés e lagos), onde a pesca comercial é permitida, respeitando algumas restrições regulamentadas por leis federais, estaduais e municipais. A fiscalização é feita pelas comunidades, sua associação local e o Ibama.
Avive (Associação Vida Verde da Amazônia)
Trata-se de uma associação das mulheres da comunidade que para gerarem renda, produzem cosméticos, sabonetes, velas perfumadas, bijuterias e saches com produtos naturais da região. A pequena fábrica fica próxima da pousada e os produtos são vendidos numa pequena loja no centro da cidade. As principais essências são o pau-rosa, preciosa e cumaru.
A pousada aldeia dos lagos
Com o apoio do WWF e patrocínio do governo austríaco a pousada foi construída em 1992 e conta com um prédio central onde ficam a recepção, cozinha, restaurante e é utilizada para o convívio dos turistas. Um pouco afastado, estão dois conjuntos com 6 quartos cada. Apesar da construção simples, são muito limpos e equipados com frigobar, ar-condicionado e banheiro privativo. Nestes, são colocados sabonetes com um delicioso aroma de pau-rosa.
Permacultura
É uma atividade agrícola que tem como objetivo o manejo dos recursos naturais, visando a implantação de sistemas produtivos sustentáveis, com a utilização de novas técnicas de cultivo e produção, buscando uma melhoria na qualidade de vida das comunidades através de uma alimentação saudável e sustentável. A palavra Permacultura é fruto de uma simples coligação entre as palavras: Agricultura e Permanente. Ela foi composta e desenvolvida como alternativa para destacar uma necessária transformação: mudar os atuais modelos de produção convencional (inclusive os de corte e queima) para sistemas produtivos integrados, sustentáveis e permanentes, preservando assim os nossos sistemas naturais.
Chegando em Silves
Após o pernoite em Manaus, tomei o ônibus das 10h para Itacoatiara, trajeto que leva 4 horas. Chegando em Itacoatiara peguei o barco expresso e em 1 hora e meia estava em Silves, onde o Hilos, meu guia nos próximos dias, me aguardava para me levar até a pousada. O município é relativamente pequeno e a Aldeia dos Lagos fica numa das extremidades da ilha, no alto de uma colina. Durante o restante do dia fiquei ouvindo informações da região e programando o dia seguinte.
1º dia – Lago Canaçarí
Após uma noite de tempestades, acordei às 6:30h ainda com chuva fina. Subi para o restaurante para o café da manhã na certeza que a programação da manhã estaria cancelada. Porém, por volta das 10h o tempo melhorou e saímos de voadeira (canoa com motor) para conhecer o lago Canaçarí e Purema. Visitamos o ecossistema dos Igapós e o abrigo flutuante. Trata-se de uma casa de madeira sobre uma plataforma metálica flutuante, onde os membros da Aspac se revezam como fiscais, garantindo a segurança e preservação do lago. Saindo do abrigo passamos por uma região com enormes vitórias-régias. Não resisti e fiz fotos nos mais diversos ângulos.
No retorno à pousada passamos pela comunidade do São João e finalmente pude visitar uma casa de farinha em funcionamento. A casa de farinha é onde o caboclo prepara a principal fonte de alimento de sua família: a farinha de mandioca e a tapioca. Todo o processo é feito artesanalmente onde a mandioca é descascada, moída, espremida e finalmente torrada em grandes tachos sobre fogo à lenha. Aproveitei também para fotografar e conversar com as famílias da comunidade. Retornamos para a pousada e mal começamos a almoçar despencou um temporal daqueles. Como a chuva avançou na tarde, cancelamos o segundo passeio e aproveitei para conhecer a permacultura e a criação de coelhos da pousada.
2º dia – Labirinto e comunidade Sta. Luzia
Acordei um pouco mais tarde já prevendo que o seria dia nublado. Não deu outra, o dia amanheceu encoberto e ameaçando chuva. Após um longo café conheci o Vicente, coordenador do projeto e responsável pela pousada, e ficamos batendo papo sobre os projetos da Aspac. Por volta das 10h o tempo já estava mais confiável e saí com o Hilos para conhecer o labirinto, uma região com muitas árvores de médio porte e devido a semelhança dessas e dos caminhos, torna-se difícil localizar-se lá dentro. Muitos já se perderam nessa região, mesmo já sendo acostumados. Durante o caminho avistamos muitas garças que alçavam vôo ao nos aproximarmos. Fomos até o sítio O Tchan, local onde muitos estrangeiros adoram passar a noite e comer os quitutes preparados pela família. Segundo Hilos é interessante ver como as crianças se comunicam com eles, mesmo não falando seus idiomas.
No caminho de volta para a pousada passamos pela comunidade de Santa Luzia onde também está se implantando a permacultura. Após o almoço fomos para o massapé, onde pudemos ver um trecho de uma trilha na mata. Porém, como já era tarde não deu para fazê-la por completo. No caminho fotografei uma bela flor e só após perguntar ao Hilos fui saber que era do tão conhecido gergelim.
Como era sexta feira e havia mais movimento na cidade, fui jantar com o Hilos num restaurante. Como já de costume, fiquei um tempão ouvindo suas histórias e casos da Amazônia.
3º dia – Lago Piramirim
O dia começou um pouco mais cedo e o Vicente nos acompanhou no passeio. O destino foi o lago Piramirim, onde com o motor desligado entramos em muitos pontos do igapó a procura de detalhes, frutos e flores. Foi um passeio muito instrutivo, pois fotografei uma série de detalhes que até então não havia visto – plantas: vitória-régia, samambaia aquática ambé e aguapé – frutos: marimari, catauari, abiurana, acara-açú. Dentre esses, o mais interessante é o marimari, pois fiquei impressionado com o capricho da natureza ao embalar cada semente num compartimento isolado na vagem, parecendo um biscoito requintado.
Outra descoberta nesse dia, e pouco abordada em matérias sobre a Amazônia é que os peixes se alimentam desses frutos, sementes, caules, etc, no decorrer do ano. E dependendo do que ele se alimenta o sabor de sua carne pode ser influenciado. Tanto que, dependendo da época do ano alguns peixes saem ou entram na dieta dos caboclos devido a seu sabor.
Como retornamos tarde para o almoço não fizemos a saída da tarde e aproveitei para fotografar a pousada e obviamente ouvir as histórias do Hilos. À noite voltei à cidade para o jantar e depois fui conhecer como é um baile em Silves. Literalmente, conhecer, pois sem a menor condição de acompanhar os passos do forró e brega.
Partindo de Silves
Após um café servido especialmente para mim, me despedi de todos e parti às 8h numa lancha rápida para Itapiranga. O passeio foi extremamente prazeroso, pois somente atravessando o lago do Canaçarí numa lancha é que se pode ter idéia de seu tamanho. Em certos pontos ele chega ter 15 km de largura. Uma vez em Itapiranga fui apanhado de táxi pelo Sr. Alonso que me levou até Itacoatiara, de onde peguei o ônibus de volta para Manaus.
Esta viagem começou por Manaus, passou pelo Juma Lodge, por aqui e Presidente Figueiredo.
Serviços
Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural – ASPAC
Pousada Aldeia dos Lagos
Rua 04 s/n – Ponta do Macário – Bairro Panaroma
69110-000 Silves – AM
aldeiadoslagos@terra.com.br